Como obter valor com o processo "conheça seu cliente"

Diante das dificuldades dos bancos em reduzir o custo e o risco de atender à regulamentação sobre KYC, é hora combinar as melhores abordagens existentes

Encontrar uma maneira mais eficiente de cumprir a regulamentação de combate à lavagem de dinheiro (AML, na sigla em inglês) e sobre processos “conheça seu cliente” (KYC, na sigla em inglês) é uma alta prioridade para os bancos. E por um bom motivo: as instituições financeiras estão gastando bilhões para lidar com regulamentos cada vez mais amplos e mais rígidos, multas e sanções e a crescente insatisfação de clientes com os processos KYC.

Para clientes corporativos, as solicitações de atualização de dados feitas por vários bancos de forma semelhante, mas não uniforme, torna a conformidade KYC/AML uma tarefa complicada. O mercado carece de soluções KYC centradas no cliente que permitam às empresas concentrar o controle dos seus dados, para fornecer acesso a bancos determinados e suas subsidiárias em diversos países.

Os reguladores também estão buscando soluções que permitam aos bancos cumprir as regras para impedir o crime organizado e grupos terroristas de desviar dinheiro via instituições financeiras legítimas. A maioria dos bancos está se atualizando para cumprir os padrões existentes, enquanto se prepara para novas regulamentações. Na Europa, os bancos estão gastando 19 bilhões de euros por ano em operações e tecnologia de due diligence AML/KYC, como mostra nossa pesquisa.

Nossa solução para uma nova abordagem é um modelo que reúne os elementos das experiências mais bem-sucedidas até agora. Criar uma rede de dados confiável e multijurisdicional seria algo capaz de satisfazer tanto as necessidades dos clientes corporativos dos bancos quanto dos reguladores.

Reduzir custos operacionais e de risco KYC é prioridade para os bancos

As sanções AML/KYC custaram aos bancos 6,9 bilhões de euros globalmente em 2019. Atualmente, essas instituições estão gastando muito mais para se manter em conformidade. Estimamos que os bancos na Europa tenham custos operacionais de 12 bilhões de euros por ano com processos para garantir a conformidade KYC, realizados por meio de revisões periódicas ou impulsionadas por eventos. Além disso, os gastos com tecnologia dos bancos na Europa giram em torno de 7 bilhões de euros por ano.

Entre os maiores bancos internacionais, os custos operacionais de AML/KYC variam de 200 milhões de euros a 400 milhões de euros por ano. No caso dos bancos menores e instituições financeiras especializadas, o gasto por instituição chega a dezenas de milhões de euros. Até 80% desses custos operacionais referem-se a revisões programadas e com base em eventos. Os 20% restantes são custos para integrar novos clientes e incluir seus dados.

Custo e tempo aumentam bastante quando se trata de cumprir as obrigações de conformidade referentes a empresas multinacionais ou corporações com estruturas de propriedade complexas. De acordo com o provedor de dados LexisNexis, os bancos gastam até 47 horas realizando as tarefas necessárias para cada cliente corporativo multinacional ou estrangeiro. Os clientes corporativos internacionais representaram cerca de 50% ou mais dos custos operacionais de KYC e AML nos cinco maiores mercados bancários corporativos da Europa:


Custos operacionais agregados dos bancos referentes às revisões periódica e impulsionadas por eventos1 (em 2019)

Reino Unido (3,1 bilhões de euros)
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Alemanha (2,3 bilhões de euros)
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França (2,1 bilhões de euros)
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Holanda (1,4 bilhão de euros)
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Suíça (0,6 bilhão de euros)
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Clientes corporativos internacionais2
Clientes corporativos domésticos

1 Excluindo custos de tecnologia e TI
2 Clientes corporativos não residentes e clientes corporativos residentes com presença internacional
Fonte: análise da Strategy&

Lições extraídas de quatro abordagens

Os bancos têm trabalhado arduamente para melhorar seus processos KYC e permanecer em conformidade com os novos regulamentos. No entanto, nenhuma abordagem produziu resultados que satisfaçam plenamente todos os principais stakeholders – os próprios bancos, seus clientes corporativos e os reguladores. Os custos para os bancos e o esforço exigido de seus clientes ainda são altos, a cooperação entre os stakeholders é baixa e a aceitação de novas abordagens tem sido, na melhor das hipóteses, variável.

 

A maioria dos grandes bancos investiu ou está investindo atualmente em seu modelo operacional KYC, inclusive aplicando uma política e diretrizes centralizadas e uniformizando formas de trabalhar nos hubs regionais. Isso significa ter uma política KYC global, com operações locais (em sua maioria) responsáveis por fazer seu próprio controle. Essa opção permite reações rápidas e eficientes para acompanhar a regulamentação, melhorias nos recursos de processamento KYC e capacidade para se tornar ainda mais eficiente. Esperamos que os bancos continuem revisando suas políticas globais e investindo nelas, para uniformizar e controlar melhor seus processos KYC, além de lançar a base para futuros modelos operacionais KYC envolvendo fornecedores terceirizados.

Os bancos contrataram provedores de serviços externos para realizar tarefas e operações KYC específicas em seu nome, em uma relação de serviço personalizado. Isso incluiu assumir todo o processo KYC, proporcionando capacidade extra quando a carga de trabalho nas análises de casos é alta ou em casos especiais que precisam ser corrigidos. Esperamos que os serviços gerenciados continuem a ser um elemento importante no mercado KYC, para que os bancos se beneficiem da tecnologia de ponta dos provedores. Os serviços gerenciados, entretanto, também podem ser usados em modelos de plataforma ou compartilhados, em vez da atual relação de serviço personalizado.

Enquanto os provedores de serviços gerenciados têm um relacionamento de serviço personalizado com um banco, as utilities atendem a um grupo de bancos, tornando-se uma proposta atraente para agrupar recursos, compartilhar operações e dados e – o mais importante – remover trabalho duplicado em escala. Os principais facilitadores para as utilities são um modelo de dados padrão e uma infraestrutura e processos operacionais uniformizados, para atender os clientes corporativos sobrepostos dos bancos. Devido ao alto grau de relacionamentos compartilhados entre bancos e clientes corporativos em nível regional, acreditamos que as utilities regionais para KYC fazem sentido. No entanto, desde que publicamos nosso primeiro relatório em 2019, os modelos de utility vêm enfrentando obstáculos. Esperamos que as concessionárias continuem a desempenhar um papel importante, especialmente para bancos de médio a grande porte e em regiões distintas.

Uma rede de compartilhamento de dados KYC permite a troca de dados entre seus participantes – como bancos, clientes corporativos, reguladores, provedores de dados e várias utilities de dados. As redes de compartilhamento de dados se baseiam na ideia de um ecossistema e podem evoluir a partir de um conceito de utility. Por exemplo: o modelo faz uso de recursos-chave de diferentes participantes envolvidos no ecossistema KYC e, dessa forma, conecta serviços públicos de diferentes jurisdições. As redes de compartilhamento de dados podem integrar diferentes tipos e qualidades de dados de vários provedores de serviços, como dados públicos e comerciais.

Perspectivas

Nossa pesquisa descobriu que uma rede KYC multijurisdicional que conecta bancos, seus clientes corporativos, dados, outros provedores de serviços e, potencialmente, reguladores é necessária para resolver o desafio KYC. Essa rede combinaria o foco em confiança e relacionamento com o cliente característico dos atuais modelos operacionais KYC dos bancos, a eficiência e a escalabilidade dos serviços gerenciados, o foco em normas regulatórias regionais, um padrão comum fornecido por um utility KYC, a abordagem de vários provedores e a flexibilidade das redes convencionais de compartilhamento de dados.

Os principais fatores de sucesso apresentados em nosso relatório levarão a uma abordagem padrão interorganizacional em torno de uma rede multijurisdicional. Em última análise, o sucesso desse modelo exige que bancos e empresas usem a rede. É preciso poder conectar facilmente os participantes do ecossistema para que a rede forneça serviços flexíveis e abrangentes adaptados às necessidades dos bancos e clientes corporativos.

Bancos e outros stakeholders exploraram em conjunto várias opções e aprenderam muito nos últimos anos, mas o desafio KYC só aumentou e os stakeholders estão perdendo a paciência. Acreditamos que fazer uma mudança radical para adotar o modelo multijurisdicional permitirá reunir todas as abordagens já experimentadas e criará uma rede capaz de realizar todo o potencial de tecnologia e serviços disponíveis.

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Willer Marcondes

Willer Marcondes

Sócio e líder de Consultoria em Serviços Financeiros, Strategy& Brazil

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