As ferramentas para promover a inovação tecnológica na área da saúde já existem. A maioria das empresas farmacêuticas utiliza essas ferramentas de alguma forma, ao aplicar inteligência artificial, machine learning, big data e computação cognitiva para avançar na pesquisa e desenvolvimento de medicamentos ou ao incorporar esses recursos para automatizar processos operacionais e da força de trabalho.
Mas há um problema: a adoção mais ampla da inteligência artificial na saúde ainda é muito baixa. A razão para isso é o fato de muitos líderes empresariais não terem certeza de que estão fazendo tudo certo. De acordo com nosso recente estudo sobre o futuro da saúde, a maioria dos executivos farmacêuticos relata a existência de lacunas em seus próprios recursos de análise de dados e se sente limitada pela falta de acesso a outros dados que consideram valiosos para analisar oportunidades de negócios e ameaças. Eles querem usar inteligência artificial e machine learning para aproveitar o poder dos dados com mais eficiência e eficácia, mas não sabem como.
Neste relatório, abordamos os níveis atuais de maturidade de dados e inteligência artificial na indústria farmacêutica, apresentamos nossas expectativas sobre o futuro e fazemos algumas recomendações para ajudar as empresas do setor a criar valor no longo prazo. Abordamos, particularmente, o valor que pode ser obtido com a medicina de precisão personalizada e como os dados e a inteligência artificial podem expandir esse valor.
É crucial que as empresas farmacêuticas usem a inteligência artificial, mas primeiro elas devem repensar o potencial dos dados – removendo-os de compartimentações tradicionais, usando-os para estabelecer as conexões necessárias e participando de um ecossistema colaborativo.
Acreditamos que os líderes da transformação baseada em dados na indústria farmacêutica serão aqueles capazes de desenvolver competências essenciais em duas áreas:
Embora o chamado modelo blockbuster esteja desatualizado, muitas empresas farmacêuticas globais ainda o utilizam para operar seus negócios. Elas trabalham com medicamentos produzidos em massa – principalmente os desenvolvidos quimicamente –, voltados para problemas de saúde bastante comuns e que podem ser prescritos para uma enorme população de pacientes. Esse modelo, porém, deve mudar em breve, por dois motivos principais.
1. O aumento dos custos e as mudanças nas preferências do consumidor afetam o setor
Em primeiro lugar, o setor está enfrentando custos crescentes – em toda a cadeia de valor, de pesquisa e desenvolvimento à fabricação e ao marketing. Desenvolver novos produtos sempre foi caro, mas se tornou ainda mais nas últimas duas décadas. Ao mesmo tempo, o número de produtos protegidos por patentes diminuiu, levando a um aumento de imitações produzidas por fabricantes de genéricos. Essa realidade, aliada à crescente importância dos biossimilares, e as reimportações têm aumentado a pressão sobre os preços no mercado farmacêutico.
Em segundo lugar, a demanda por produtos personalizados aumentou. Uma razão para isso é que a população mais idosa continua a crescer. Além disso, pessoas de todas as idades estão cada vez mais conscientes da importância de manter sua saúde e seu bem-estar. Elas buscam avanços em pesquisas médicas, químicas, biológicas e biotecnológicas e mais tecnologia de informação farmacológica e bioinformática.
Outra razão é que a indústria farmacêutica está ficando rapidamente sem novos alvos viáveis de fármacos, que podem ser neutralizados por pequenas moléculas ou grandes proteínas. Isso obriga o setor a desenvolver modalidades completamente novas de medicamentos. Dados, inteligência artificial e machine learning certamente desempenharão um papel fundamental nessa área de inovação.
2. A medicina de precisão personalizada será em breve o novo normal para a indústria farmacêutica e de saúde
Os líderes em custo se esforçam por alcançar a maior participação de mercado possível com um portfólio de produtos que apresente boa relação custo-benefício, baseado principalmente em biossimilares e genética. Apenas pouquíssimas grandes empresas farmacêuticas que baseiam seu negócio em pesquisa seguem esse caminho. A maioria das grandes empresas do setor farmacêutico vendeu suas unidades de genéricos nos últimos anos.
Os diferenciadores se concentram em novos medicamentos baseados em precisão que podem ser aplicados em nichos menores da população e no tratamento de doenças raras. Terapias personalizadas podem ser criadas com base nas características genéticas e biológicas de um paciente individual e podem até mesmo incluir fatores sociais e ambientais.
Estamos apenas no início da era da medicina de precisão personalizada e a diferenciação já parece ser a estratégia escolhida pela maioria das grandes empresas farmacêuticas. É um caminho promissor – não necessariamente fácil.
O sucesso na medicina de precisão personalizada exigirá uma série de novas capacidades, incluindo diagnóstico individual do paciente; sequenciamento digital e análise das características biológicas individuais do paciente; produção customizada em massa (e entrega personalizada) do ingrediente ativo; e controle de acompanhamento individual de eficácia e contraindicações.
A maioria das empresas farmacêuticas ainda não está preparada para oferecer um serviço individual de ponta a ponta, do diagnóstico ao controle, mas elas podem mudar esse quadro se começarem a implementar recursos corporativos de inteligência artificial e análise de dados.
A inteligência artificial e a transformação baseada em dados terão um papel maior na inovação dos negócios
A inteligência artificial e a transformação orientada por dados vão reconfigurar a cadeia de valor farmacêutica
O futuro da indústria farmacêutica exigirá uma evolução rumo a ecossistemas de plataforma
As empresas farmacêuticas devem priorizar o desenvolvimento de seus próprios dados e recursos de inteligência artificial, mas, se quiserem ter sucesso, não poderão fazer isso sozinhas. Esperamos ver inovação contínua nas áreas convergentes de saúde, farmacêutica e tecnologia nos próximos 20 anos. O potencial da inteligência artificial e da transformação baseada em dados já é tangível e está apenas começando.
Esta publicação tem como foco o potencial da inteligência artificial em pesquisa e desenvolvimento, mas há muitas outras oportunidades para a inteligência artificial – por exemplo, em operações e em marketing e vendas, assunto que será discutido nas próximas publicações da Strategy&. A conclusão que já se pode ter: este é o momento ideal para as empresas farmacêuticas organizarem seus próprios dados, desenvolverem novos recursos e formarem parcerias estratégicas.
Quando as empresas farmacêuticas começarem a colaborar para superar esses obstáculos, uma nova geração de modelos de negócios surgirá no ecossistema de saúde digital. As novas funções no ecossistema de saúde orientado por dados provavelmente incluirão:
provedores de soluções, que podem oferecer opções personalizadas para doenças específicas e necessidades de bem-estar;
orquestradores, que podem aproveitar a análise de dados para combinar soluções ideais às necessidades de um consumidor específico; e
provedores de plataforma, que podem manter as plataformas físicas e tecnológicas para os orquestradores e provedores de soluções desenvolverem e distribuírem seus produtos e serviços.
Em última análise, cada empresa farmacêutica precisa tomar uma decisão sobre como pretende se beneficiar de dados e inovações orientadas por inteligência artificial. Você vai esperar que as mudanças aconteçam para então colaborar com os novos players do ecossistema?